quinta-feira, 2 de agosto de 2012


Quando criança estudei pouco, falei pouco mas pensei muito. Por de trás de todas minhas roupas apertadas e meias longas havia um pedido silencioso de socorro o qual ninguém pôde ouvir. Foi sim uma infância normal, e hoje acredito que nenhuma criança que viveu como eu, foi de fato feliz, mas nem por isso deixou de ter uma infância de porta retrato.

Vivia sufocada, e ainda tão nova tinha segredos que até hoje me arrepiam. Talvez tenha sido aí o ponto. Desde muito cedo suportando um peso que não era meu. Essa agonia de agora, me trás a face triste de antes, o cansaço de agora trás o corpo de antes, e tudo, tudo, tudo me cala.

Riscava o meu mundo, meu corpo e minhas bonecas. Cortava papel, braço, e cabelo. Fugia e amava secretamente todos. Assim como fiz ontem e hoje,a diferença é que minhas pequenas bonecas de plástico deram lugar par algumas bem maiores.

Quando caia à tarde, pensava muitas vezes em incêndios, suicídio, deus e drogas; tudo que de fato era proibido a uma criança. Depois me culpava, e ao som de uma música banal, eu rezava e chorava ser a maldade.

Minha infância foi marcada pela repetição desses acontecimentos, e a culpa tornou-se meu pior pesadelo mas meu pseudo-aliado. A culpa era minha, e porque não dizer que eu gostava de sustentá-la. Bonecas, cabelos, tesoura, brinco, bilhetes, canetas e roupas. Tudo culpa minha.

Gostava de sofrer para ganhar um afago. Mas para diminuir minha culpa, meu sofrimento tinha que ser verdadeiro. E assim fiz e faço. Como um kamikaze não suicida, em uma busca desesperada por qualquer coisa que doa mas não não mate.

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